João Charters de Almeida doou ao Município de Abrantes um acervo de obras suas, representativas das várias fases de um percurso de mais de meio século de atividade artística, numa carreira que comporta a escultura (a sua área de formação), a medalhística, a cerâmica, a tapeçaria, a pintura e o Jazz (como flautista), incluindo peças marcantes, que vão desde o ferro ao aço, ao bronze, à pedra e ao betão.
A narrativa do acervo dessa intensa atividade criadora integra a exposição permanente presente nas 17 salas, situadas particularmente nos pisos 1 e 2 do museu. O circuito de visita parte da casa e prolonga-se por um logradouro, criando um percurso de exposição ao ar livre até à entrada do Jardim do Castelo, tendo também vista privilegiada sobre o Aquapolis, nas margens do rio Tejo, nomeadamente sobre a escultura “Cidade Imaginária”, da sua autoria.
Inserido na zona histórica de Abrantes, na envolvente próxima exterior da muralha do Castelo/Fortaleza de Abrantes, o Edifício Carneiro, com forte presença na malha urbana, apresenta uma arquitetura inspirada nos modelos arquitetónicos dos chalets da época, expressa nos três corpos, dois no topo e um central, ligeiramente destacados em relação ao alongado corpo paralelepípedo ao baixo com acentuados telhados de duas águas e vãos de geometria simples, bem como no logradouro/jardim escalonado ladeado de muros.
O projeto de restauro, reabilitação e ampliação estruturou-se em princípios expressos nas cartas patrimoniais da UNESCO e na prática profissional relacionada com reabilitações de idêntico enquadramento técnico-cultural. A expressão arquitetónica deste edifício e o seu reconhecimento no contexto da cidade de Abrantes, combinados com a localização na envolvente próxima exterior da muralha do Castelo, reforçam a sua particularidade.
A intervenção teve em consideração os principais atributos que valorizam este edifício no contexto sociocultural, tendo sido perspetivada uma obra de restauro, reabilitação e atualização tecnológica, de acordo com a nova função a instalar no edifício, face às características físicas/estruturais em presença, procurando assegurar uma cuidada requalificação do Edifício Carneiro, respeitando os seus traços identitários e aumentando-lhe a estima pública ao potenciar um novo tempo de uso funcional e tecnologicamente compatível com as exigências de conforto contemporâneas.
A adaptação da unidade habitacional a Museu de Arte Contemporânea, que programaticamente necessita de espaços amplos em continuidade, obrigou a uma reflexão abrangente, entre a manutenção da identidade cultural da casa conjugada com as suas condicionantes tecnológicas e a necessidade da sua transformação/alteração de modo a integrar uma nova e exigente função. Assim sendo, o programa foi amplamente discutido e estabilizado por um conjunto de técnicos, onde se incluem os representantes do município, técnicos especializados em museologia, um historiador e os arquitetos autores do projeto, em estreita ligação com o escultor Charters de Almeida e Maria Adelaide Bahia.
Perante a área útil existente e as características arquitetónicas e estruturais do Edifício Carneiro, optou-se por se criar num edifício anexo espaços de apoio associados ao museu, funcionando como uma natural extensão a norte do Edifício Carneiro; a sua configuração e cobertura vegetal procuram estabelecer uma leitura de continuidade de plataforma de jardim existente, possibilitando a sua integração quando observado a partir dos planos superiores, nomeadamente do caminho da ronda do Castelo.
É um dos nomes marcantes da escultura portuguesa contemporânea, com obra de dimensão arquitetónica espalhada por vários continentes. Do barro ao bronze, da pedra ao betão, tem obras em Portugal, Estados Unidos, Canadá, Itália, China e Brasil, entre outros países.
Com obras em grande escala como as Cidades Imaginárias, intervenções que chegam a atingir os 40 metros de altura e que podem ser apreciadas em parques e jardins de vários países, ocupa e redefine o espaço urbano. É o caso das peças metálicas pintadas a vermelho que, em Lisboa, dialogam com a paisagem da Alameda da Universidade ou da rotunda de Telheiras, das "Portas do Entendimento" concebidas para Macau, ou do conjunto escultórico instalado nas Ardenas, Bélgica. A sua ação artística passa também pela cerâmica, pintura, gravura, desenho, design e cenografia, bem como figurinos para ópera e bailado. Embora menos conhecida, tem também uma vasta obra no campo da medalhística, tendo sempre procurado imprimir nesses trabalhos soluções pioneiras, facto que lhe granjeou reconhecimento nacional e internacional. De entre esse conjunto de trabalhos, destacamos a medalha cunhada em bronze alusiva à revisão constitucional de 1982, a medalha alusiva aos 100 anos da Metalúrgica Duarte Ferreira, no Tramagal, cunhada em bronze, a medalha do V centenário de S. Tomé e Príncipe (fundição em bronze) e a medalha de duas faces cunhada em bronze “Passado. Abrantes. Futuros”.
Breve Biografia
Coleções e Exposições
Está representado em Museus, Fundações e Coleções particulares em Portugal e noutros países da Europa, EUA, Brasil, Canadá e Japão. Tem trabalhos de grande escala em espaços públicos em Portugal, Bélgica, EUA, Canadá e China.
Prémios e Condecorações
Núcleos Museológicos dedicados ao seu trabalho
No concelho de Abrantes
A vasta obra de Charters de Almeida estende-se por várias décadas, desde os anos 50 do século XX até aos nossos dias, já em plena terceira década do século XXI.
Ao longo de todo esse longo percurso, que o levou aos quatro cantos do mundo, com obras em praças, museus e coleções de inúmeros países, Charters de Almeida trabalhou diversos materiais (o bronze, a pedra, diversos metais e o betão armado), assim como experimentou diferentes expressões artísticas, da figuração à abstração, das evocações orgânicas ao minimalismo e pós-minimalismo, da escultura intimista e da medalhística e até da pintura e da cenografia à grande escultura pública e a uma interessante combinação ou mesmo interface entre arquitetura e escultura, quer em projetos, quer em obras realizadas.
Toda essa produção está devidamente representada, através de obras e de projetos, no Museu de Arte Contemporânea Charters de Almeida, graças à generosa doação do escultor e da sua família. Com a organização deliberadamente “não cronológica” dos trabalhos expostos no percurso museológico que se estende pelos três pisos, pretende-se que o observador os veja e sinta em simultâneo nos diversos espaços emocionais e físicos em que foram realizados, compreendendo todas e cada uma das fases diferentes em que os mesmos foram concebidos, provocando no observador analogias de temas e formas sempre em desenvolvimento e, tanto quanto possível, em face da abertura e disposição de cada visitante, a aproximação aos sentidos últimos que o artista quis dar a cada um e também a todos eles.
Fernando António Baptista Pereira
O Edifício Carneiro, propriedade da Câmara Municipal de Abrantes desde 1956, foi construído em 1897 por Jacinto Carneiro e Silva, Capitão de engenharia, para casa de habitação. “Nascido em Santana de Campinas (Pará, Brasil), a 12.8.1866, mas com raízes nortenhas, na zona de Santo Tirso. Capitão do Exército, chegou a Abrantes por força da Inspeção de Engenharia e aqui se fixou, através do casamento, em 1897, com uma senhora da burguesia local, D. Maria Alexandrina Pacheco d’Almeida”. Chegou a ser presidente da Câmara Municipal de Abrantes (janeiro de 1908), “tendo então apresentado propostas interessantes, de planeamento e gestão urbana (…). Faleceu a 18.1.1922, na sua Quinta de Sande (Landim, Vila Nova de Famalicão), mas a urna com os seus restos mortais viria para Abrantes, ficando depositada no jazigo da família, no cemitério municipal”.
Foi construído como chalet, residência do casal.
“Para além da EICA – Escola Industrial e Comercial de Abrantes, e do Liceu, foram passando por este edifício, posteriormente, diversas instituições e serviços, como o Colégio La Salle (1959-60), uma Delegação do IPJ e alguns serviços socioculturais da CMA, o Centro de Saúde (1984-1994), o Núcleo de Abrantes da Cruz Vermelha Portuguesa, a Universidade Internacional (1994-2002), a UTIA – Universidade da Terceira Idade, a Abranpolis, a Escola de Música do Orfeão, a Cres.cer, a Palha de Abrantes, Associação de Desenvolvimento Cultural, a Federação Portuguesa de Cineclubes e o Grupo de Teatro Palha de Abrantes”.
Excerto do artigo da autoria do historiador Joaquim Candeias da Silva, «O Edifício Carneiro – Uma casa com história» publicado na revista de história local “Zahara”, n.º 9, de 2007. O artigo pode ser consultado na íntegra do site wikitejo.mediotejo: https://wikitejo.mediotejo.pt/index.php/arte-desporto-recreacao/arquitetura/edificios-publicos-comerciais-e-industriais/536-o-edificio-carneiro-uma-casa-com-historia
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