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O Museu

Onde há menos de meio século havia atividade industrial e agora já só restavam memórias e património arqueológico, reinventou-se a utilização desses testemunhos e nasceu o Museu Metalúrgica Duarte Ferreira. Inaugurado a 01 de maio de 2017 na vila de Tramagal, concelho de Abrantes, é um projeto que envolveu a comunidade local na doação de espólio, na partilha de estórias ou na identificação de peças, à qual se juntaram a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia de Tramagal e o Grupo Diorama. É um museu de território, com base na Nova Museologia que preserva a memória e o património – material e imaterial – legado pela Metalúrgica Duarte Ferreira (MDF).

Entramos numa viagem no tempo e ficamos a conhecer a história inspiradora do seu fundador, Eduardo Duarte Ferreira, um humilde ferreiro que marcou a história com conquistas através da inovação tecnológica que trouxe à agricultura no início do século XX. Este museu aviva a memória com mais de um século do agregado industrial da MDF, marcada pela inovação e desenvolvimento.

Trata-se de um repositório de memória que atravessa a produção de veículos pesados civis e militares – Divisão Berliet – para servir o exército nas ex-colónias. Que conta a história de mais de 2600 operários e das suas famílias que tiveram acesso à primeira Caixa de Previdência do país, à saúde, à educação, à cultura, ao desporto e à habitação e que eram livres de celebrar o 1º de Maio desde 1901, mesmo durante o Estado Novo. Mas que também conta as dificuldades por que passaram as suas gentes com o fim da Guerra Colonial, o 25 de Abril e a intervenção da fábrica e os salários em atraso.

A vila do Tramagal é ela própria uma extensão da MDF, já que grande parte das suas instituições culturais, sociais e desportivas foram aí instaladas por intervenção direta e apoio da empresa metalúrgica. Este museu de memória, de estórias e de estímulos sensoriais foi o Melhor Museu do Ano 2018, distinguido pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM).

Metalúrgica Duarte Ferreira

A MDF é uma realidade especialmente curiosa, porquanto se afasta daquilo que os historiadores defendem a propósito do desenvolvimento industrial português na transição do século XIX para o século XX: fábricas criadas por famílias abastadas ou por estrangeiros. O pioneirismo de Eduardo Duarte Ferreira fez deste um fenómeno único.
José Martinho Gaspar (mediotejo.net)

Fábrica

O primeiro grande crescimento ocorreu entre 1920 e 1940, altura em que o fundador, Eduardo Duarte Ferreira, colocou de pé a grande fábrica metalúrgica, junto à linha de caminho-de-ferro, na freguesia de Tramagal, tornando-se na maior fundição do país. Com novos edifícios, crescimento do número de trabalhadores e aquisição de máquinas modernas, a fábrica entrou no caminho da expansão, incluindo a exportação. Foram anos de ouro com o fabrico de material para muitos setores de atividade: oleícola; vinícola; indústria naval; serrações; construção civil, etc.

Terminada a II Guerra Mundial era a empresa da área da metalomecânica, à escala nacional, melhor posicionada para oferecer ao mercado soluções inovadoras. Entre 1940 e a década de 60, a fábrica conhece mais um período dourado que a levou a uma nova expansão e crescimento.

Grande unidade industrial associada a uma inédita responsabilidade social para a época, impulsionou o desenvolvimento da freguesia de Tramagal. Mais do que apenas produzir, foi responsável pelo surgimento de muitos serviços sociais e culturais ao dispor das famílias dos metalúrgicos, mas também da população em geral. Com a recessão da agricultura, a diminuição do investimento na rodovia, o aparecimento de outras empresas com semelhante segmento de mercado, o fim da guerra colonial – deixou de produzir o mítico camião Berliet para o ultramar – e as nacionalizações pós 25 de Abril de 1974, a empresa começou a desmoronar-se.

Fábrica

Breve Cronologia

  • 1880 | Eduardo Duarte Ferreira concebe a sua pequena oficina, “A Forja”, no centro do Tramagal
  • 1882 | Funde pela primeira vez 100kg de ferro e fabrica a primeira charrua metálica
  • 1895 | Adquire nova e melhor maquinaria que instala em novas instalações e a pequena fábrica passa a chamar-se Fundição do Tramagal
  • 1917 | Patenteada em 2 de julho, a borboleta é usada desde os primeiros anos da primitiva fundição e depressa fica conhecida como um símbolo de qualidade em qualquer ferramenta ou máquina agrícola da casa Duarte Ferreira
  • 1920 | São inauguradas as novas instalações da Fundição do Tramagal, junto à estação do caminho-de-ferro, que conta já com 250 operários e com 168HP de potência instalada
  • 1923 | Entra em funcionamento a unidade de aço vazado por processo elétrico – à data a única no país. A “grande fábrica do Tramagal” transforma-se a sociedade por quotas, passando a chamar-se Duarte Ferreira & Filhos
  • 1924 | Cria um “lagar modelo”, que passa a constituir um laboratório experimental de material oleícola
  • 1926 | Abre a filial de Lisboa
  • 1927 | É fundada a Caixa de Pensões do Pessoal da Casa Duarte Ferreira e Filhos
  • 1933 | É adquirida a Fábrica de Loiça Esmaltada do Porto. Inicia-se a produção de enfardadeiras mecânicas
  • 1934 | Fabrica a primeira debulhadora fixa, com aperfeiçoamentos na limpeza do cereal
  • 1940 | O fundador, Eduardo Duarte Ferreira, entrega a administração da fábrica aos seus três filhos (Joaquim Cordeiro Duarte Ferreira, Manuel Cordeiro Duarte Ferreira e Eduardo Cordeiro Duarte Ferreira) e funda a Casa Agrícola Eduardo Duarte Ferreira & Filhos
  • 1947 | É constituída a sociedade anónima Metalúrgica Duarte Ferreira, S.A.R.L.
  • 1964 | 10 de fevereiro – O Presidente da República, almirante Américo Tomás, inaugura a linha de montagem da “Berliet” na MDF
  • 1967 | Entra em funcionamento uma nova fundição, com capacidade para 8500 toneladas/ano de peças de aço
  • 1968 | Abre a filial de Angola
  • 1974 | O Governo intervenciona a MDF que à época tinha cerca de 2.600 trabalhadores
  • 1979 | 19 de dezembro – Determinada a cessação da intervenção do Estado na MDF. A empresa é subdividida em três empresas: Tramagauto (montagem e fabrico de veículos automóveis), FUTRA (materiais de fundição) e FMAT (fabrico e montagem de máquinas agrícolas)
  • 1984 | 27 de janeiro – Trabalhadores da MDF ocupam simbolicamente a Câmara Municipal de Abrantes, em sinal de protesto face à sua situação laboral
  • 1995 | A Metalúrgica Duarte Ferreira é extinta
Escritórios

Eduardo Duarte Ferreira

Foi toda a vida um homem muito simples que recusava viver no luxo e sempre se preocupou com o bem-estar dos seus trabalhadores.
Patrícia Fonseca, autora da biografia de Eduardo Duarte Ferreira

Eduardo Duarte Ferreira

Nasceu no Tramagal, concelho de Abrantes, em 1856, onde faleceu em 1948. Ainda muito jovem mostrou uma qualidade de observação e tenacidade fora do vulgar. Em 1879 começou a trabalhar por conta própria e inaugurou a “A Forja”, oficina de ferreiro que foi o embrião da Metalúrgica Duarte Ferreira. Com o tempo, o negócio cresceu e, pese embora as dificuldades da época (final do século XIX, princípio do século XX), revolucionou o setor metalúrgico em Portugal e construiu a pulso um colosso industrial.

Foi um predestinado na sua relação com o ferro e a sua paixão espalhou pelo mundo as marcas do "império da borboleta". O seu esforço, visão e capacidade de inovação moldaram o futuro da metalurgia em Portugal e o seu exemplo permanece vivo, provando que é possível ser grande, mesmo numa terra pequena.

Breve Cronologia

  • 1856 | Nasce no Tramagal, a 10 de fevereiro
  • 1875 | Torna-se aprendiz na forja de Manuel Mineiro, em Rossio ao Sul do Tejo, Abrantes
  • 1879 | Trabalha gratuitamente na grande Fundição do Ouro, no Porto, para aprender a trabalhar o ferro
  • 1880 | Inaugura “A Forja”, uma pequena oficina no centro do Tramagal
  • 1882 | Funde pela primeira vez 100 kg de ferro e fabrica a primeira charrua metálica, na qual introduz alterações importantes: o rasto e o bico passam a ser substituíveis
  • 1883 | Adquire o primeiro torno mecânico e uma máquina a vapor, em segunda mão, de 3 HP. Inicia o fabrico de noras e de material oleícola e vinícola
  • 1884 | Casa com Rosa Cordeiro, no Tramagal
  • 1885 | Adquire um torno mecânico maior e uma máquina a vapor com 6 HP, que instala já num novo edifício, passando a pequena fábrica a designar-se Fundição do Tramagal. Nesse ano contrata também o seu primeiro escriturário
  • 1898 | Recebe a Medalha de Ouro atribuída pela “charrua americana” e a Medalha de Cobre atribuída pela “nora de ferro”, apresentadas na Exposição e Concurso de Alfaia Agrícola à Real Associação Central da Agricultura Portugueza – 4.º Centenário do Descobrimento da Índia
  • 1900 | Recebe uma Menção Honrosa atribuída pelo Ministério do Comércio, da Indústria, dos Correios e dos Telégrafos da República Francesa, pela sua participação na Exposição Universal de 1900 de Paris
  • 1910-1920 | Os três filhos de Eduardo Duarte Ferreira (Manuel, Joaquim e Eduardo) prosseguem estudos superiores: primeiro em Lisboa, depois na Alemanha, França, Inglaterra e Estados Unidos.
  • 1928 | É-lhe conferido o grau de Comendador, pelo Presidente da República, Óscar Carmona, homenageando o seu percurso e os serviços prestados ao desenvolvimento da Nação
  • 1940 | Entrega a administração da empresa aos seus três filhos e funda a Casa Agrícola Eduardo Duarte Ferreira & Filhos
  • 1946 | Ao completar 90 anos de vida, é agraciado com uma homenagem dos trabalhadores. Por um dia, os pavilhões das oficinas enchem-se de mesas e bancos corridos, flores e cartazes com versos alusivos à sua vida. Aos mais de mil convidados, que jantaram todos sentados, é-lhe oferecido o livro “A lição da sua vida”, uma biografia escrita pela nora do industrial, Maria Basto
  • 1948 | Morre aos 92 anos, na sequência de uma pneumonia. Ao seu funeral acorreram várias centenas de pessoas, numa emotiva demonstração de respeito e admiração
  • 1952 | Nas comemorações do 1º de Maio, é inaugurado o monumento em sua homenagem, da autoria de Vasco da Conceição e Keil do Amaral
Eduardo Duarte Ferreira
O Prémio

No dia 25 de maio de 2018 o Museu MDF recebeu o Prémio de Melhor Museu Português do Ano, atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia, que neste ano teve a chancela do Sr. Presidente da República. Na cerimónia, que decorreu no Museu dos Coches em Lisboa, o Museu MDF recebeu ainda uma Menção Honrosa, na categoria de Investigação, atribuída ao livro “Metalúrgica Duarte Ferreira 1879-1997. Uma História em Constante Metamorfose”, da autoria da jornalista Patrícia Fonseca.

No dia 11 de maio de 2019, na XIV Gala Antena Livre & Jornal de Abrantes, que distingue personalidades e instituições da região e do país, o Museu MDF foi reconhecido com o Galardão Cultura.

Prémio Melhor Museu Português - Associação Portuguesa de Museologia

De 25 a 27 de setembro de 2019, o Museu MDF esteve presente em representação do Município de Abrantes e de Portugal, na Conferência The Best in Heritage 2019, evento organizado pela European Heritage Association, pela Europa Nostra e pelo ICOM (International Council of Museums), evento que reuniu em Dubrovnik (Croácia) uma criteriosa seleção dos melhores 300 projetos museológicos premiados em 2018, de todo o mundo.

Num total de 42 apresentações, o Museu MDF de Tramagal foi apresentado numa das 28 conferências de projetos galardoados em todo o mundo (19 nacionalidades: Portugal, Estados Unidos, Polónia, China, Rússia, Holanda, Sérvia, Brasil, Itália, Reino Unido, Croácia, Finlândia, Japão, Estónia, Alemanha, Índia, França, Canadá e Estados Unidos da América).


Ver no Google Maps contactos T 96 850 46 01
T 241 330 100 (Tecla 6 + Opção 3)
E museusdeabrantes@cm-abrantes.pt

Horário de Funcionamento

Quarta-feira a sábado das 09:30 - 13:00 e 14:00-17:30. Domingo 09:30-12:30. Encerra à segunda, terça e feriados (exceto 1º de Maio). Última entrada 30 minutos antes do encerramento.

Visitas Orientadas e Serviços Educativos.(marcação prévia com antecedência mínima de 15 dias para museusdeabrantes@cm-abrantes.pt)

Preçário

Morada

Rua Comendador Eduardo Duarte Ferreira nº 116. 2205-697 Tramagal.
Coordenadas GPS: 39º27’34.1’’N 8º14’51.5’’W

Mapa

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