20.04.24 - 24.11.24
"Our name will be forgotten in time”
Obra de Bárbara Bulhão
Aquando do convite feito para a curadoria desta exposição, refleti sobre as afinidades que tenho com o colecionador Luís Ferreira e a sua coleção. Este fator não torna mais fácil a escolha e a montagem destas peças num museu, instituição por si mesmo inibidora, quando se deslocam obras de um ambiente íntimo para um ambiente público.
O título, numa exposição que tem por base uma coleção de um colecionador específico, é a tentativa de resumir e dar a conhecer a quem a visita as motivações para assim se expor, ao mostrar o que são as suas experiências quotidianas e como se refletem nas escolhas dos trabalhos e dos artistas expostos.
Não se pense que é de somenos importância a insistência, quando se abraça a vontade de colecionar. Quando a intenção é representar a metáfora em que o significado habitual de uma palavra é substituído por outro, só aplicável por comparação, a palavra premência, ou seja, o ato de exercer pressão, vem aprofundar ainda mais esta obstinação e teimosia. A insistência de Luís Ferreira, que está para além da compulsão da aquisição comum a todos os colecionadores, reflete antes de mais a urgência da obtenção da coisa, que lhe é instintiva até pelo vínculo à sua profissão, onde a premência é urgente para a obtenção de um resultado positivo. É, segundo Luís Ferreira, o ínfimo intervalo de tempo entre a vida e a morte.
A exposição de uma coleção provoca inevitavelmente a crítica e as intermináveis questões sobre o porquê desta ou daquela escolha da parte do colecionador e da curadoria. Numa primeira abordagem, alguns nem atentam nas obras, mas unicamente nos nomes dos artistas escolhidos, surgindo a comparação com outras coleções.
Apesar dos contratempos, a vontade e a necessidade de no final prestar um serviço público faz da mostra de coleções privadas uma bondade que é necessária à divulgação de artistas que bastantes vezes são rejeitados individualmente em mostras mais institucionais. Ou por serem muito jovens. Ou por falta de conhecimento. Ou por não haver vontade. Ou por não terem ainda uma legitimação dos seus pares.
“Embalar (...) é um exercício de esquecimento (…) quase insuportável” (1) para um colecionador: a falta de contacto com as obras é uma resignação impossível.
A premência de rever as obras e a expectativa da nova montagem confluem num contentamento que foi protelado. As obras estão encostadas às paredes ou estendem-se pelo chão à espera de lhes serem atribuídos lugares. Do ponto de vista do colecionador, este processo da montagem reaviva memórias dos locais onde as peças habitam. Os locais onde e como as adquiriu tornam-se um símbolo, uma recordação a partir da qual toda uma nova memória pode ser reconstruída.
Montar uma exposição é um ato criativo; como tal, as obras perdem a sua individualidade e passam a fazer parte de outra coisa. Por associação, adquirem novas identidades no conjunto.
Ao introduzir no texto do catálogo palavras e definições escritas por autores que me são caros, fui elaborando um texto à boa maneira Dada, em colagem ou assemblage, ou surrealista, com os cadavres exquis.
O movimento Dada é um dos meus eleitos. Por ter sido disruptivo, político e contestatário. Coincidindo esta exposição com as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, e considerando que os artistas são uma peça importante para o desenvolvimento cultural e de transmudação do modo individual de pensar e julgar, rememorei o movimento Dada e daí parti para a leitura estrutural desta coleção, considerando que era pertinente e atual voltar ao princípio do século xx.
(1) Embalando a minha Biblioteca, Alberto Manguel. Outras referências: Os Limites da Interpretação, Umberto Eco, Contra a Interpretação e outros Ensaios, Susan Sontag e O Amante do Vulcão, Susan Sontag
Isabel Vaz Lopes
Artistas
Andreia Santana, Bárbara Bulhão, Carla Rebelo, Carlos Correia, Carlos Mensil, Cecília Costa, Daniela Krtsch, Didier Fiúza Faustino, Fábio Colaço, Filipe Barbosa, Francisco Venâncio, Gabriel Garcia, Hugo Canoilas, Igor Jesus, João Leonardo, João Pedro Trindade, João Pedro Vale, Mariana Gomes, Martinha Maia, Miguel Ângelo Rocha, Paulo Nozolino, Paulo Simão, Pedro Barateiro, Pedro O Novo, Pedro Vaz, Raquel Melgue, Regina Chulam, Ricardo Marcelino, Rita Ferreira, Rita GT, Rui Horta Pereira, Sara Bichão, Sara Mealha e Sofia Areal.
Curadoria
Isabel Vaz Lopes
Catálogo
Disponível apenas em versão digital
Exposições realizadas no MIAA - Museu Ibérico de Arqueologia e Arte:
2021
2022
2023
2024
Horário de Funcionamento
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