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Rio

08.10.22 a 26.02.23

José Pimenta nasceu no Souto em 1931 e estudou, entre outros locais, na Escola Industrial Machado de Castro, em Lisboa, onde se destacou nas matérias de desenho à vista e desenho técnico. Cedo porém começou a trabalhar, iniciando a sua vida ativa ainda em Lisboa e mudando- se cerca de dez anos mais tarde para Alferrarede, onde trabalhou por conta própria na área dos mosaicos e da azulejaria, através da qual manteve sempre afinidade e contacto com a prática do desenho e das artes decorativas.

No seu percurso profissional «pré-artístico» destacaríamos, entre vários outros aspetos interessantes, o facto de ter trabalhado numa fase inicial da sua carreira, ainda em Lisboa, com o seu primo João Pimenta, da célebre construtora J. Pimenta, e de ter fundado alguns anos mais tarde, já na região de Abrantes, a Fábrica de Mosaicos Pimenta, ao leme da qual se tornou um empresário respeitado, tendo mesmo chegado, num determinado momento, a ser candidato à Junta de Freguesia de Alferrarede.

Numa fase mais avançada da sua vida, começou a dedicar- se de forma gradual à compra, venda e por vezes restauro de velharias, instalando-se em Rio de Moinhos, onde ainda hoje mantém a sua loja e atelier. Foi no âmbito desta atividade que aos 62 anos pensou esculpir em pedra as mãos de uma figura de Cristo que se haviam partido e perdido. Contudo, na impossibilidade de o fazer — por ter sido desmotivado por várias pessoas próximas, cada vez que referia essa intenção — decidiu-se a esculpir, de forma algo intuitiva, três Santos Antónios e uma “Mãe Piedosa” em quatro blocos de pedra que havia trazido para a sua loja. Passados poucos dias, um seu conhecido manifestou interesse em adquirir as quatro figuras, o que acabou mesmo por acontecer e constituiu, diríamos nós, o momento fundador de uma vocação e o início de uma prática que perdurou sem interrupções até ao presente. Tanto assim é que alguns anos mais tarde o artista readquiriu essas obras, tendo passado a conservá-las em sua casa, longe dos olhares dos seus clientes e colecionadores.

O autor terá portanto iniciado a sua prática através da escultura, à qual se dedicou exclusivamente durante alguns anos, fazendo-se auxiliar frequentemente por esboços das figuras que lhe interessavam e/ou pretendia esculpir. A prática do desenho autonomiza-se com naturalidade e estende-se de seguida à da pintura, para a qual José Pimenta desenvolve a sua própria técnica de forma instintiva e original, recorrendo maioritariamente a pigmentos diluídos em cera acrílica (entre outros materiais próprios da pintura) e utilizando como suportes velhas placas de madeira, restos de mobiliário, portas, etc.

Não sendo uma pessoa praticante ou católica no sentido mais convencional do termo, os assuntos e motivos representados na sua obra vão-se alargando mais e mais, não só em função da sua voraz curiosidade e atenção ao que o rodeia, como também do prazer da descoberta e aprendizagem técnica, e ainda, do próprio gozo do fazer e executar que apenas uma prática diária e continuada proporciona. Assim, as suas obras vão do religioso ao histórico, do político à cópia, à homenagem e ao pastiche, do etnográfico ao autobiográfico, culminando, a nosso ver — porque representa uma certa forma de libertação do tema, em prol do prazer da própria realização artística livre de quaisquer constrangimentos, e aqui referimo-nos particularmente à pintura — na abstração patente em muitas das suas obras.

Alongando-nos ainda um pouco no que diz respeito à temática, as pinturas e desenhos de José Pimenta podem representar atividades antigas que ele próprio realizava em criança, como o chamar a abelha mestra para o cortiço, ou o segurar o cavalo na eira enquanto este pisa a palha; podem narrar bailaricos e festas populares que ele próprio, uma vez mais, vivenciou, ou lembrar personagens que conheceu, familiares, conterrâneos e não só. Podem ainda referir-se a obras de outros artistas — veja-se por exemplo a cópia de O fado de José Malhoa — retratar figuras políticas tão distintas como Nelson Mandela ou os deputados da Assembleia da República (fechados pelo artista a “sete chaves”), podem homenagear figuras públicas tão distintas como António Variações, Cesária Évora e Fernando Pessoa, ou ainda partir de tentativas de desenhar algo que, resultando ou não, sugere e se transforma noutra coisa que pode ser figurativa, abstrata ou um compromisso entre ambas estas vertentes.

Por sua vez, as esculturas podem também inspirar- -se em obras já existentes, como o Zé Povinho de Rafael Bordalo Pinheiro ou O beijo de Constantin Brancusi, representar imagens religiosas como São Simão, Jesus Cristo ou episódios bíblicos, representar brasões de famílias da região — o artista trabalha, pontualmente, por encomenda — ou ser uma vez mais exemplos de puro prazer da descoberta e do processo da escultura em si própria. Ao nível dos materiais verifica-se o uso recorrente de pedras calcárias da região de Fátima, madeiras de várias espécies, havendo ainda casos isolados de outros materiais.

À já referida inventividade técnica no que toca à pintura importa ainda acrescentar a procura constante — comum a tantos dos “grandes artistas” — que constitui o simples ato de se deslocar todos os dias, todo o dia, ao longo de bastantes anos — desde que a sua vida assim o permitiu — para o seu atelier / loja e trabalhar. Assinale- -se ainda o interesse demonstrado ao longo dos anos por variadas “personalidades” de diferentes pontos do país que visitam repetidamente a sua loja. Arquitetos, artistas, designers, livreiros, editores, etc., que com as suas (muitas) compras avivam uma outra característica deveras interessante, que é o facto de que cada vez que uma obra “preferida” do seu autor é vendida e “desaparece” — e diríamos que podem ser bastantes aquelas que encaixam nesta categoria — é recorrente que José Pimenta as tente reproduzir, sendo assim frequente a existência de várias versões diferentes das suas “melhores” obras. Esperamos poder partilhar hoje convosco algumas delas.

Sara & André

Artistas
Mestre José Pimenta

Curadoria
Sara & André

Catálogo
Disponível para aquisição no museu

Arquivo de exposições

Exposições realizadas no MIAA - Museu Ibérico de Arqueologia e Arte:

2021

  • - Objetos Específicos – Parte 1 - Coleção Figueiredo Ribeiro - Curadoria: Ana Anacleto e João Silvério - 08.12.21 a 28.08.22
  • - Memórias Futuras - Coleção de Arte Contemporânea do Estado - Curadoria: David Santos, Manuel João Vieira, Sandra Vieira Jürgens, Sara & André e Comissão de Aquisição de Arte Contemporânea do Estado 2019/20 - 08.12.21 a 03.04.22

2022

  • - Contra-Parede - Ana Vidigal, Nuno Nunes-Ferreira e Pedro Gomes - Curadoria: Hugo Dinis - 23.04.22 a 25.09.22
  • - Da Vinci Simulacrum - Margarida Sardinha - Curadoria: Hugo Dinis - 23.04.22 a 25.09.22
  • - O que fazer? - Martim Brion - Curadoria: João Silvério - 17.09.22 a 12.02.23
  • - Dois Cafés - Luís Paulo Costa - Curadoria: Sara Antónia Matos - 17.09.22 a 12.02.23
  • - Rio - Mestre José Pimenta - Curadoria: Sara & André - 08.10.22 a 26.02.23
  • - As minhas arqueologias - Heitor Figueiredo - Curadoria: Hugo Dinis - 08.10.22 a 26.02.23

2023


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E museusdeabrantes@cm-abrantes.pt

Horário de Funcionamento

Terça-feira a domingo das 10:00 - 12:30 e 14:00 - 17:30. Encerra à segunda-feira e feriados (exceto 14 de junho). Última entrada 30 minutos antes do encerramento.

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Preçário

Morada

Jardim da República, 25, 2200-343 Abrantes.
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