08.12.21 a 03.04.22
Para além do seu lugar e época, qualquer prática artística e expositiva tem em si uma medida de fixação temporal e uma expectativa de memória. Com a afirmação da relevância e a convicção da permanência das suas escolhas, Memórias Futuras pretende também interrogar a experiência do tempo. Não propriamente da temporalidade do fazer ou da duração do ato de ver, mas de um exercício de projeção e de visão que lança já um olhar retrospetivo para o futuro, desconstruindo a ordem lógica e linear na consideração do tempo.Nesse sentido, a exposição assume a complexidade plástica, maleável do tempo, vislumbrando a continuidade mas também a simultaneidade, a progressão mas também a inversão, o arrastamento, os saltos, os retrocessos ou os desvios que a nossa perceção pode abarcar ou intuir. Sabemos como acontecimentos marcantes como a pandemia que vivemos atualmente podem distorcer a perceção normal da passagem do tempo. As suas datas, tal como a sua medição e duração, podem ser relativas. E, abstraindo-nos do presente, podemos viver no (e do) passado ou futuro.
É a partir destas premissas que olhamos o conjunto de trabalhos presentes na exposição Memórias Futuras. No seu vaivém, interessa-nos certamente perspetivar o que hoje estas obras nos dizem acerca do passado, do presente e do futuro, mas sobretudo imaginar e refletir sobre as possíveis leituras que propiciarão amanhã: as condições históricas e o sentido crítico que manifestam no plano cultural, sociopolítico, tecnocientífico e ambiental, as diferentes expressões documentais e ficcionais das construções da memória e da identidade, as aproximações autobiográficas e coletivas às histórias e modos de pensamento e vida da sociedade contemporânea, a par das dimensões experimental, estética, metafórica, narrativa e simbólica implícitas às suas pesquisas e abordagens plásticas.
O que lembraremos do presente é também o que o presente continuamente lembra do futuro que imagina. Por iniciativa do Governo, através do Ministério da Cultura, foi retomada uma política pública de aquisições para a Coleção de Arte Contemporânea do Estado, que privilegia a criação nacional e a respetiva fruição em todo o território, através da constituição da Comissão para a Aquisição de Arte Contemporânea, em 2019, e da afetação anual de uma verba para a aquisição, a qual tem sido progressivamente reforçada.
Com as obras de arte agora apresentadas pela primeira vez enquanto conjunto, que correspondem ao programa de aquisição de arte contemporânea referente a 2019, a Coleção de Arte Contemporânea do Estado vê o seu momento presente iluminado, não apenas pela definição do seu reforço artístico e patrimonial, como ainda por uma estratégia de verdadeira descentralização territorial do seu acervo, de que as cidades de Coimbra (2020) e Abrantes (2021) constituem os primeiros exemplos.
Assim, entre a perspetiva de recuperação de uma visibilidade sobre esta Coleção que o Estado Português iniciou em 1976 e a projeção a médio e longo prazo do seu investimento e ampliação, sairão beneficiados, por certo, não apenas os públicos, como o sistema da arte portuguesa contemporânea, sublinhando-se a ideia fundamental de que só consolidando políticas continuadas ao nível da cultura poderemos construir um futuro capaz de favorecer o exercício crítico da cidadania. Só uma visão plural e desassombrada do passado pode abrir caminho a uma consciência do presente ou à imaginação desse futuro para o qual queremos contribuir. As obras de arte em diálogo aqui apresentadas desenham, por isso, a constelação inicial de uma nova vida desta Coleção e, ao mesmo tempo, a “memória futura” dos sinais que nela já se anunciam.
David Santos, Manuel João Vieira, Sandra Vieira Jürgens, Sara & André e Comissão de Aquisição de Arte Contemporânea do Estado 2019/20
Artistas
António Bolota, António Júlio Duarte, Carla Filipe, Dayana Lucas, Fernando Brito, Filipa César, Gonçalo Pena, João Jacinto, João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Isabel Carvalho, Miguel Soares, Patrícia Almeida, Paulo Mendes, Pedro Neves Marques, Pedro Tudela, Silvestre Pestana, Vasco Araújo e Von Calhau!
Curadoria
David Santos, Manuel João Vieira, Sandra Vieira Jürgens, Sara & André e Comissão de Aquisição de Arte Contemporânea do Estado 2019/20
Exposições realizadas no MIAA - Museu Ibérico de Arqueologia e Arte:
2021
2022
2023
2024
Horário de Funcionamento
Terça-feira a domingo das 10:00 - 12:30 e 14:00 - 17:30. Encerra à segunda-feira e feriados (exceto 14 de junho). Última entrada 30 minutos antes do encerramento.
Visitas Orientadas e Serviços Educativos.(marcação prévia com antecedência mínima de 15 dias para museusdeabrantes@cm-abrantes.pt)
Morada
Jardim da República, 25, 2200-343 Abrantes.
Coordenadas GPS: 39º27’38.6’’N / 8º11’50.7’’W
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